Um estado em que seus profissionais da área de comunicação são assassinados com o uso arcaico de pistoleiros é um estado onde a democracia que o rege está doentia. E o estado do Ceará padece desse mal que vem assolando sua imagem mundo afora. Um mal que já devia ter sido erradicado do País, mas que é frequente no nordeste brasileiro, e o que é pior, frise-se – se é que se pode dizer que há algo de menos nocivo nisso –, um recorrente modo para matar profissionais de imprensa. No Ceará, há muitos exemplo de casos assim.
Até agora, as investigações feitas pela Polícia sobre a morte do radialista Gleydson Carvalho, no pacato e belo município de Camocim, a 379 km da capital Fortaleza – morto última semana com três tiros enquanto apresentava seu programa na rádio Liberdade FM –, apontam para um complô altamente planejado com o objetivo de ceifar a vida do profissional, conhecido pela cruzada contra políticos corruptos da região nordeste do estado, e com o uso da pistolagem.
ERA PARA SER MORTO AO VIVO
Última segunda-feira, o 180 esteve durante todo o dia na cidade, e apurou que a intenção por trás da morte do diretor executivo da Rádio Liberdade FM não era somente a de ceifar uma vida, mas deveria ser também um recado transmitido ao vivo para todos. Os próprios integrantes da rádio suspeitam que ao matar o radialista, os dois prováveis pistoleiros que adentraram o recinto, renderam a recepcionista e acuaram um técnico da rádio, não atingiram 100% seu objetivo. Isso porque, no momento dos disparos, a rádio estava no intervalo musical, com isso, os tiros deflagrados não puderam ser escutados pelos ouvintes. Uma cena de horror, que possivelmente, para os bandidos, foi incompleta. “Por que não mataram ele em outro lugar?”, questionou um profissional da rádio.AO CASO
Última segunda-feira, o 180 esteve durante todo o dia na cidade, e apurou que a intenção por trás da morte do diretor executivo da Rádio Liberdade FM não era somente a de ceifar uma vida, mas deveria ser também um recado transmitido ao vivo para todos. Os próprios integrantes da rádio suspeitam que ao matar o radialista, os dois prováveis pistoleiros que adentraram o recinto, renderam a recepcionista e acuaram um técnico da rádio, não atingiram 100% seu objetivo. Isso porque, no momento dos disparos, a rádio estava no intervalo musical, com isso, os tiros deflagrados não puderam ser escutados pelos ouvintes. Uma cena de horror, que possivelmente, para os bandidos, foi incompleta. “Por que não mataram ele em outro lugar?”, questionou um profissional da rádio.AO CASO
O 180 irá divulgar a partir de hoje, algumas matérias relacionadas ao acontecido, envolvendo a morte do radialista Gleydson Carvalho, e ainda algumas entrevistas, além de revelar alguns fatos como os que permeiam as perguntas e respostas abaixo, onde o entrevistado é o delegado responsável pelo caso, Herbert Ponte e Silva, que atua no município de Camocim e é novato na região, como ele fez questão de frisar.
No grupo de pessoas que contribuíram para a morte do radialista, houve quem planejasse, quem desse apoio, quem executasse, quem financiasse e quem mandasse matar. Alguns dos envolvidos exerceram mais de uma função nessa teia criminosa. A suspeita é de que existiriam políticos da região envolvidos.
O 180 chegou a ouvir de uma autoridade, cujo nome pediu para não ser publicado, a palavra “consórcio”. Também chegou a ouvir o suposto numerário pago pela vida do radialista, algo em torno de “R$ 100 mil”, sendo R$ 50 mil para cada pistoleiro, para por em prática toda a operação, com um acréscimo após o trabalho. Informações que as demais autoridades não citam, não falam, não ‘sabem’ ou não confirmam. A Polícia Civil, por exemplo, diz que foram apreendidos com dois integrantes do grupo, os ‘peixes pequenos’ presos acusados de envolvimento no caso, somente R$ 1.800,00.
Esses dois que foram presos, no entanto, aparentemente deram somente apoio e ajudaram a disfarçar as intenções do grupo. São Gisele de Sousa do Nascimento e Francisco Carneiro Portela, presos em uma casa na localidade de Serrota, distrito de Senador Sá, a 83 km de Camocim. Os pistoleiros ainda estão soltos e os supostos mandantes também.
A Polícia acrescentou ainda que esses dois integram um grupo de cinco, formado ainda pelos dois que invadiram a rádio e uma outra mulher, cujo nome não foi ainda declinado. A imprensa do Ceará até o momento só noticiou o envolvimento de 4 pessoas na execução do plano, mas o leque seria maior, segundo o próprio delegado.Veja entrevista com o delegado logo abaixo.
DOIS CASAIS ALUGARAM UMA PENSÃO NA FRENTE DA RÁDIO
O delegado Herbert Ponte e Silva também confirmou para o 180 que dois casais - as duas mulheres e os dois pistoleiros - alugaram uma “pousada” que ficaria “em frente” à rádio, e de lá observaram a movimentação no ambiente e aperfeiçoaram a execução do plano. Nesse momento de coleta de informações por parte do grupo, que como se vê, teria agido de forma bem planejada, para não levantar suspeitas iniciais, Francisco Antônio Carneiro Portela – que seria, também segundo o delegado, "sobrinho" de um dos pistoleiros – teria ficado na casa de apoio em Serrota, onde eles diziam e espalhavam para vizinhança que seria um comércio, um bar.Chegaram até a iniciar a pintura do ambiente. Tudo para não levantar suspeitas. A casa servia, além de abrigo e de local de planejamento, também de possível rota de fuga após a execução, já que o local, praticamente despovoado, permite a saída para diversos locais dentro do Ceará. A polícia desaconselhou o 180 a ir nesse recinto.
O delegado Herbert Ponte e Silva também confirmou para o 180 que dois casais - as duas mulheres e os dois pistoleiros - alugaram uma “pousada” que ficaria “em frente” à rádio, e de lá observaram a movimentação no ambiente e aperfeiçoaram a execução do plano. Nesse momento de coleta de informações por parte do grupo, que como se vê, teria agido de forma bem planejada, para não levantar suspeitas iniciais, Francisco Antônio Carneiro Portela – que seria, também segundo o delegado, "sobrinho" de um dos pistoleiros – teria ficado na casa de apoio em Serrota, onde eles diziam e espalhavam para vizinhança que seria um comércio, um bar.Chegaram até a iniciar a pintura do ambiente. Tudo para não levantar suspeitas. A casa servia, além de abrigo e de local de planejamento, também de possível rota de fuga após a execução, já que o local, praticamente despovoado, permite a saída para diversos locais dentro do Ceará. A polícia desaconselhou o 180 a ir nesse recinto.
POLÍCIA CIVIL NÃO PEDIU APOIO DA MILITAR PARA PRENDER PISTOLEIROS
Outro ponto que está sendo questionado na cidade de Camocim é a forma como se deu a operação da Polícia Civil para prender o grupo. Na ocasião, estariam na casa dois pistoleiros, o sobrinho, e uma das mulheres que participaram do plano de apoio. A segunda mulher não se encontrava no local. Quando da batida policial, após um telefonema anônimo, eles prenderam somente os apoiadores do plano – os dois pistoleiros fugiram.O delegado revela na entrevista ao 180 que realmente não pediu o apoio da Polícia Militar, que estava preparada para a operação, bastando somente ser acionada. A frequência da rádio das duas polícias, inclusive, é fácil de ser usada, mas não foi acionada. O 180 apurou que a PM local, de Camocim, estava com 12 viaturas à disposição e dezenas de homens altamente preparados. Quatro deles chegaram a dar apoio ao 180 – acionados que foram após o carro da reportagem ter sido seguido por um sujeito intimidador e sem nenhum medo de demonstrar que estava seguindo o veículo em uma moto preta, sem identificação.
Outro ponto que está sendo questionado na cidade de Camocim é a forma como se deu a operação da Polícia Civil para prender o grupo. Na ocasião, estariam na casa dois pistoleiros, o sobrinho, e uma das mulheres que participaram do plano de apoio. A segunda mulher não se encontrava no local. Quando da batida policial, após um telefonema anônimo, eles prenderam somente os apoiadores do plano – os dois pistoleiros fugiram.O delegado revela na entrevista ao 180 que realmente não pediu o apoio da Polícia Militar, que estava preparada para a operação, bastando somente ser acionada. A frequência da rádio das duas polícias, inclusive, é fácil de ser usada, mas não foi acionada. O 180 apurou que a PM local, de Camocim, estava com 12 viaturas à disposição e dezenas de homens altamente preparados. Quatro deles chegaram a dar apoio ao 180 – acionados que foram após o carro da reportagem ter sido seguido por um sujeito intimidador e sem nenhum medo de demonstrar que estava seguindo o veículo em uma moto preta, sem identificação.
“NINGUÉM BATE NA PORTA, SEM CERCAR O QUINTAL”
O 180 apurou também que esses homens da Força Tática disponíveis para operação estavam fortemente armados, possuíam granada de luz e som, ferramentas para arrombamento, explosivo, holofote, farol de busca e tudo mais necessário para uma perseguição demorada se preciso fosse. A casa era pequena, era o espaço de um bar.
O 180 apurou também que esses homens da Força Tática disponíveis para operação estavam fortemente armados, possuíam granada de luz e som, ferramentas para arrombamento, explosivo, holofote, farol de busca e tudo mais necessário para uma perseguição demorada se preciso fosse. A casa era pequena, era o espaço de um bar.
A operação, da forma como foi deflagrada pela Civil, que antes estava trabalhando em parceria com a Militar, parece ter causado uma divisão entre as duas polícias, que na região, já era bem acirrada. Procurado, o Major Artunane Aguiar, que comanda a Força Tática em Camocim, não quis falar com a reportagem. Uma autoridade policial ao ser ouvida pelo 180, sobre o caso, resumiu-se a dizer: “ninguém bate na porta, sem cercar o quintal”. Também pediu para que seu nome não fosse mencionado.
A PM, quando chegou ao local, a Polícia Civil já havia saído. Ao todo só teriam participado da operação 4 homens da Civil, que deixaram os dois pistoleiros escaparem. “Já nós, tínhamos homens e veículos para cercar o distrito de Serrota todo”, diz a mesma fonte dentro da Polícia Militar. A ordem da cúpula do governo é prender todos os envolvidos vivos para que entreguem os mandantes.
“NÃO HOUVE FALHA”, DIZ DELEGADOO delegado da Polícia Civil nega, entretanto, qualquer falha na operação. “Não houve falha delegado?”, pergunta o 180. “Nenhuma. Qual foi a falha? Dois fugiram. Mas eu descobri o crime. Qual foi a falha? Se eu não prendo? Se eu demoro? Ia fugir todo mundo, e aí, tu ia achar o quê? O que que ia ficar para tu pegar? Nada. (...) Não ia ter nada se tu não age com rapidez. Então a gente tinha que agir rápido, porque a história que a gente tinha é de que os caras iriam chegar lá e em seguida, de madrugadinha, iriam fugir. Então não tinha para onde correr. Na minha opinião o importante é você elucidar o crime, agora se alguém acha que não. Então aí é problema de ótica, de visão, de entendimento da situação”, falouNO CASEBRE HAVIAM DOIS PORCOS NO QUINTAL
Uma das indagações que fica, porém, é como é que uma polícia treinada, profissional, não conseguiu dar cabo de cercar um casebre com todos dentro? “Lá tinham dois porcos no quintal somente, nem cachorro tinha”, diz uma fonte. Na casa, não tinha como fugir pela lateral. Ou era pela frente, ou pelos fundos. Por que isso não foi checado antes da invasão?
Outra indagação, é por que a foto do jornalista não foi apresentada pela Polícia Civil entre o material apreendido, mas foi encontrada pela Polícia Militar - que teria chegado à casa logo depois que a Civil saiu - e exposta no vídeo feito e divulgado abaixo? Como a Civil, aparentemente, deixa uma foto escapar do seu campo de visão?
E onde estão os talões também mostrados no vídeo apresentado pela Polícia Militar à imprensa e que servem para comprovar de quem era a casa? Há uma dissonância entre o que a Polícia Civil anuncia para imprensa e o que ela mesmo deixou para trás, ou não seria bem isso?
Os talões seriam em nome de alguém ligado a um prefeito da região. Segundo o delegado, o dono da casa teria acompanhado a Polícia Civil até o local, quando da operação que deixou escapar os pistoleiros.
Para repasses de informações sob a condição de ter o sigilo resguardado:
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