O Brasil vai desenvolver um teste para detectar o vírus Zika em bolsas de sangue para doação. O exame será semelhante ao Teste de Ácido Nucleico (NAT, na sigla em inglês), utilizado para identificar HIV e hepatites B e C no sangue de potenciais doadores.
A pesquisa para o desenvolvimento do produto será feita pelo Instituto Bio-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e não tem prazo para ser concluída. “A expectativa é que isso seja feito rapidamente”, disse o ministro da Saúde, Marcelo Castro, depois do encerramento de reunião na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), envolvendo os governos brasileiro e norte-americano.
Pelas regras brasileiras, quem teve quadro infeccioso – de dengue, chikungunya, Zika ou outras doenças – deve ficar 30 dias sem doar sangue, a partir do desaparecimento dos sintomas. Porém, 80% dos casos de Zika não têm manifestações sintomáticas. “Muitas pessoas que têm o vírus Zika não sabem que estão infectadas. Quem não sabe pode vir a doar sangue e contaminar outra pessoa”, explicou Castro.
De acordo com o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Alberto Beltrame, serão recolhidas amostras de sangue de 300 pessoas infectadas pelo Zika para que os pesquisadores possam avaliar se há variações do vírus.
“Nada me garante nesse momento que o vírus é igual em todos os pacientes, então pegaremos essas amostras para ter convicção e fazendo esse painel podemos pegar o que é representativo do vírus no país. Mas, pelo que sabemos até agora, só existe um sorotipo do Zika”, disse Beltrame.
Parceria internacional
A ideia do teste de Zika para doadores de sangue surgiu durante reunião na Opas com pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, encerrada hoje. O encontro reuniu os institutos Butantan, Biomanguinhos e Evandro Chagas, e os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Saúde, além de representantes norte-americanos do CDC, do Departamento de Saúde e da Food and Drug Administration (FDA).
Segundo Beltrame, a FDA firmou parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que ambas possam acompanhar as pesquisas e acelerar a validação do teste, etapa da pesquisa que atesta a eficácia e a segurança do produto. “No trânsito normal, teríamos que testar (o novo NAT) no mundo inteiro”, explicou o secretário. Segundo ele, o acordo traz uma economia de anos para a finalização do processo.
Apesar de não haver prazo para produção do exame, Beltrame diz esperar que o teste esteja disponível ainda no primeiro semestre de 2016.
O Brasil já confirmou pelo menos uma transmissão de Zika por transfusão de sangue, porém, segundo a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, esse é um evento raro.