O presidente do Grupo Petrópolis, Walter Farias, que produz a cerveja Itaipava, iniciou negociações para contratar advogados que articulem sua delação premiada com o procurador geral da República, Rodrigo Janot. Essa informação foi publicada pela coluna Painel, do jornal Folha de São Paulo, na sexta-feia (5).
O objetivo do empresário Walter Farias é contar como conseguiu R$ 830 milhões em 2 empréstimos junto ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Em 2013, no primeiro a ser concedido pela instituição bancária pública nordestina foram liberados R$375 milhões. No ano seguinte, em período de campanha eleitoral presidencial, em menos de 24horas, o BNB liberou novamente novo empréstimo para o Grupo Petrópolis.
Nesse segundo empréstimo, foram financiadas a Walter Farias a quantia de R$475 milhões. Cinco dias depois, Walter doou R$5 milhões à campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Se passaram alguns dias e Farias entregou mais R$12 milhões ao comitê da reeleição de Dilma, totalizando R$17 milhões em doações.
Tanto dinheiro não foi dado de graça: o Grupo Petrópolis havia dado uma fiança bancária de 2%. Essa exigência, que protegia os investimentos do BNB, foi rasgada e, como recompensa, houve a doação de Walter Farias no mesmo valor da fiança descartada: 2%, referente ao último empréstimo de R$475 milhões, o que justifica os R$17 milhões doados à campanha de Dilma.
O Ministério Público Federal do Ceará deve, nos próximos dias, denunciar o presidente do Grupo Petrópolis, Walter Farias, juntamente com diretores e gerentes do BNB. Até o presidente do banco na época, Nelson de Sousa, corre riscos de responder por ter dispensado a fiança bancária.
Mas quem também teme tantos pelas investigações do Ministério Público Federal no Ceará, quanto pelo propósito de Walter Farias fazer delação premiada, é o ex-governador Cid Gomes. Sua situação jurídica já está muito complicada com a denúncia feita pelo MPF acusando-o de enriquecimento ilícito e a indisponibilidade de seus bens, em quase R$1.4 milhões, para ressarcir o BNB do prejuízo, pois o TCU e a CGU constataram fraudes generalizadas no empréstimo dado pelo BNB a empresa Corte Oito cuja 95% pertence a Cid Gomes.
Ocorre que, segundo documento de denúncia dele feita pelo MPF, Cid fraudou documentos para conseguir um empréstimo no BNB visando a construir um galpão, que ao término foi coincidentemente alugado ao Grupo Petrópolis.
O MPF irá apurar e, se Walter Farias fizer delação premiada, terá que contar, já que sabe se houve pagamento de propina do Grupo Petrópolis para governadores do período para pressionar o BNB a liberar esses R$830 milhões a Walter Farias. Os principais suspeitos são: o próprio Cid, que recebe um gordo aluguel de um galpão em Sobral e também seria sócio de depósitos das cervejas do Grupo Petrópolis, e o governador baiano Jaques Wagner.
Maurício Moreira