O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em entrevista ao Estadão/Broadcast que vai rejeitar todos os 25 pedidos de impeachment contra o presidente Michel Temer que estão parados em sua gaveta. Segundo a sua argumentação, após ter sido leal a Temer nas duas denúncias, não faz sentido agora atuar contra o governo. Maia também disse que o presidente tem que “agradecer muito” o fato de ele não ter agido para derrubá-lo do Palácio do Planalto.
Como fica a sua relação com o Palácio do Planalto no pós-denúncia?
Minha origem na Presidência da Câmara foi independente e o Michel tem de agradecer muito de eu ter sido eleito e não ter feito o que eu podia ter feito. Eu poderia, na minha primeira legislatura, ter trabalhado dizendo o tempo todo que o governo não me ajudou, porque ele só apoiou a minha candidatura nas últimas 24 horas. Mas eu abracei a agenda do governo porque eu acredito na agenda da equipe econômica. Não foi uma questão de “eu sou governo”. Agora, eu não misturo as coisas: o presidente da República e o presidente da Câmara têm uma relação institucional muito boa e essa relação se mantém boa. Mas, o que eu estou dizendo, como presidente da Câmara, é que a relação não será uma relação amanhã igual a que foi antes das duas denúncias se o governo não reorganizar a base.
E como faz para reorganizar a base?
Tem vários caminhos para resolver. O que você não pode é achar que o resultado da denúncia gerou uma base de 250 votos. Ter base é ter base que confia no governo, na agenda do governo, mesmo quando vem uma pauta árida para a Câmara. Acho que numa pauta árida, o governo hoje não tem maioria.
Para o sr. qual seria o melhor caminho?
Se eu começar a falar vão dizer que eu estou querendo interferir no caminho que ele (Temer) vai decidir. Eu já falei muito até. Com denúncia o governo jogou muito individualmente, como é que você restabelece a liderança dos líderes nesse processo? Isso é uma coisa que o Michel vai ter de ver. Há a cobrança de alguns partidos, alguns acham que estão subrepresentados dentro do governo. É verdade, não é?
O DEM é um exemplo? Vocês só comandam o Ministério da Educação.
Educação é uma coisa gigantesca, o DEM não está demandando outro ministério, nunca demandou do presidente. O que estou dizendo é que tem partidos que se consideram subrepresentados, tem partidos que acham que outros estão super representados. Se o governo discorda dessa opinião dos partidos, tem de chamar os presidentes e seus líderes e dizer: você não está subrepresentado. Você está bem representado por isso e por isso. Se o governo acha que essa coalizão está construída de forma correta e se os partidos acham que não, tem alguma coisa errada, no mínimo, na comunicação entre os partidos e o governo. E o governo tem de resolver isso, eu não posso resolver isso, não tenho instrumentos para isso.
Pelo seu discurso, o sr. tem se mostrado mais independente. Nos corredores da Câmara dizem que o sr. pode ser o Eduardo Cunha do Temer.
Se eu quisesse ser o Eduardo Cunha do Temer eu teria sido nas denúncias. Ser agora é até ridículo. Se eu tive a clareza que não deveria me envolver nas denúncias, que um ativismo meu nesse processo ia gerar mais instabilidade para o Brasil, não seria inteligente da minha parte agora atrapalhar o governo, de forma alguma. Como é que agora vou trabalhar para essa instabilidade? Não tem a menor chance de eu fazer isso.
O que o senhor vai fazer com os pedidos de impeachment?
Daqui a pouco vou decidir. Acho que todos os temas do impeachment o Congresso já decidiu, a Câmara já decidiu. Os temas que estão nos pedidos estão diretamente relacionados às denúncias.
Por que, então, não os rejeita logo?
Vou rejeitar no momento adequado. Porque a rejeição vai ter direito a um recurso, e esse recurso tem que ser em um ambiente em que a Câmara esteja mais tranquila, para que não tenha uma votação que possa ser distorcida em relação a sua realidade. Vou criar um novo ambiente para votação do recurso agora, logo depois da denúncia? É só ter calma. Acho que os assuntos dos impeachments são os assuntos das duas denúncias. E a Câmara julgou duas vezes. A Câmara não pode parar para julgar pela terceira vez a mesma coisa. O Brasil não suporta isso.
O governo vai conseguir aprovar a reforma da Previdência?
Reformas desse tamanho precisam estar patrocinadas pelo governo. Não tem alternativa. Por isso que digo que as próximas semanas serão decisivas para a gente entender qual verdadeiro tamanho do governo na Câmara. Mas com certeza, a reforma da Previdência não será a que a equipe econômica sonhou, que a gente sonhou. Acho que ela vai ter que se concentrar nos pontos mais importantes e que tratam basicamente de reforma em cima daqueles que ganham mais. Será uma reforma ainda muito light em relação ao que pode vir daqui a três, quatro anos, se nada for feito.
O sr. tem falado de um pauta sobre segurança pública. Quais projetos devem ser votados?
Primeiro, nada de corporação. Também não há espaço para nada de muito polêmico. Desarmamento, por enquanto, não. Tem que fazer esse debate com a sociedade. Ao mesmo tempo que a gente vê a sociedade, às vezes, querendo uma flexibilização maior na questão das armas, a gente vê uma criança com uma arma matando outras crianças aqui, nos Estados Unidos. Tem que tomar um certo cuidado, para a gente não achar que uma flexibilização maior do estatuto do desarmamento vai resolver o problema de segurança pública.
Por que a Câmara decidiu retomar a pauta de enfrentamento da Lava Jato agora?
Essa comissão que instalei para discutir o projeto sobre abuso de autoridade não tem nada de enfrentamento à Lava Jato.
Mas os procuradores veem o projeto como uma reação às investigações.
Não tem reação nenhuma. Eles estão vendo coisa onde não existe. Não existe na nossa pauta nada contra a Lava Jato.
Esse pacote fiscal que o governo está querendo mandar para fechar as contas, por que o sr. é contra o envio por medida provisória e defende o projeto de lei?
O instrumento da medida provisória é um instrumento autoritário. As MPs vêm da ditadura brasileira: dão o direito ao presidente de dar eficácia de lei algo que o povo representado na Câmara não participou.
O sr. vai devolver as MPs que o governo enviar?
Não vou devolver, só que vou continuar fazendo minha crítica. Não estou brigando, só estou dizendo o seguinte: não é correto a gente ter 20 MPs na fila para serem votadas. Isso aí tranca a pauta da Câmara, tranca o poder da Câmara de ser legislador.
E a criação do novo partido, como está?
Estamos construindo, os deputados vão começar a entrar, tem outros querendo vir. Eu acho que o partido vai caminhar para chamar a convenção, mais para o final de novembro, e nessa convenção vai se resolver o nome.
Ficou sequela na relação com o PMDB, após a filiação do senador Fernando Bezerra (PE), que estava sendo sondado pelo DEM?
A única coisa ruim foi quando os ministros do Palácio do Planalto foram à filiação do Fernando. O Palácio é a representação de uma coalizão, o Palácio não deveria ir à filiação, o governo representa a todos, quando ele prestigia politicamente o seu partido, parece que não é um líder de coalizão, é líder apenas do PMDB.
O sr. é candidato a qual cargo em 2018?
Eu sou candidato a deputado federal. O dia que eu aparecer com 7% ou 8%, aí você me entrevista e eu vou te dizer se sou candidato a presidente da República. Enquanto eu tiver 1% ou 2%, sou candidato a deputado federal. Eu tenho que respeitar o eleitor e acho que, na posição que eu estou, tenho alguma chance de recompor a aliança e continuar na presidência da Câmara. É um caminho, e é um caminho de muito poder, é algo que, neste momento, tem mais probabilidade do que eu construir uma candidatura presidencial forte.
E a governador do Rio, o sr. não pensa em disputar?
Para o Rio, tem bons nomes, o ex-prefeito Cesar Maia, o ex-prefeito Eduardo Paes. São nomes com mais experiência administrativa do que eu, para administrar o Estado mais difícil hoje do País.
O DEM não vai ter candidato a Presidência?
Eu acho que o DEM tem que ter candidato.
Quem? O Luciano Huck?
Não… Eu tenho a maior admiração pelo Luciano Huck, se ele fosse filiado ao DEM hoje, eu teria o maior prazer de defender a candidatura dele, mas ele não é filiado ao DEM. Eu não posso trabalhar com uma variável que eu não controlo.
O DEM não vai repetir a dobradinha com o PSDB em 2018?
Acho que na política tudo é possível, só não é possível o DEM coligar com o PT, o resto… Mas, quando você faz coligação, você fortalece o projeto futuro dos outros, por isso que o PSDB vem conseguindo liderar o nosso campo, porque toda eleição, a gente não te, coragem lançar um candidato, apoia o PSDB, e o PSDB vai ganhando musculatura.
Geraldo Alckmin é o nome do PSDB mais preparado para disputar a Presidência ou o sr. prefere o João Doria?
Eu gosto dos dois, me dou bem com os dois, graças a Deus a briga é no PSDB e não no DEM.
Com informações O Estadão