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segunda-feira, dezembro 18, 2017

Os Últimos Jedi: quando tudo cresce

Ser o segundo filme de uma trilogia de “Star Wars” traz em si um peso. De um lado, temos “O Império Contra-Ataca” (1980), episódio V na cronologia e a única obra-prima dentro de vários bons filmes na franquia. Do outro, temos “Ataque dos Clones” (2002), o episódio II e, na minha controversa opinião, pior até que o terrível “A Ameaça Fantasma” (1999). Ou seja, o peso era grande para a chegada de “Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi”, de Rian Johnson, segundo filme da trilogia protagonizada por Rey (Daisy Ridley).Com muito mais certos do que erros, o filme é uma das mais autênticas aventuras “Star Wars”, por assim dizer. Há, em uma leitura, o caráter fantástico, mitológico, em uma trama que sempre gira em torno do conceito de família. Em outra, surge o aspecto comercial sempre vivo nas galáxias muito, muito distantes. O sentido da obra é sempre crescente, com um ritmo frenético que surge como forma de aplacar a duração do filme (152 minutos, o maior da franquia). Ao mesmo tempo, os sentimentos – ódio, amor e uma busca constante por equilíbrio -, dão maior força ao legado dos jedi, que vem sendo construído há quatro décadas.
O sentido de “Os Últimos Jedi” é bem fiel à proposta de “Star Wars”. Não é uma obra de ficção científica. É uma fantasia espacial, um épico de construção mitológica. Sobrepostas, as jornadas de Anakin Skywalker (trilogia prequel), Luke Skywalker (trilogia original) e Rey (trilogia atual) criam um tecido narrativo de ciclos e retornos. São sempre os mestres que falham e os alunos que os superam. Há sempre uma ameaça sombria, que esconde as consequências ao oferecer uma proposta de salvação. São atos de salvação de heróis anônimos.Desta vez, Rey encontra Luke (Mark Hamill), que se nega a ensiná-la o caminho dos jedi após fracassar no treinamento de Ben/Kylo Ren (Adam Driver). Luke falhou com Kylo assim como Obi-Wan falhou com Anakin/Darth Vader. O maior mérito do roteiro de Rian Johnson é conhecer o senso de vazio de seus personagens. Rey nunca conheceu seus pais. Ben matou o próprio pai. Luke viu o pai morrer para salvá-lo. Anakin viu a mãe morrer em seus braços. No caso dos dois primeiros, protagonista e antagonista do episódio VII (“O Despertar da Força”), esse vazio, essa solidão, é espaço para aproximação. Nesse ponto, “Os Últimos Jedi” já oferece uma chance de redenção para o vilão ou uma oportunidade de ruína da heroína, algo que ressoa nos diálogos de “O Retorno de Jedi” (1983), filme final da trilogia original.
A referência constante, no entanto, é “O Império Contra-Ataca” (1980). Há, ao mesmo tempo, o flerte da tentativa de sedução de Kylo e Ren investem um no outro que rememora os planos de Darth Vader. E como o roteiro da trama evoluiu, as propostas soam ainda mais plausíveis. Só que esse centro narrativo da obra acaba diluído nos excessos. São várias sub-plots, dezenas de batalhas, várias piadas para aliviar tensão e animais fofos para vender bonecos que acabam desviando do ótimo caminho central que se apresentava.Assim, o produto final vai se perdendo nos desvios. Por exemplo, as cenas de Finn (John Boyega) e Rose (Kelly Marie Tran) são ótimas. Mas estendem o filme desnecessariamente. Poe Dameron (Oscar Isaac) e o conflito com a Almirante Holdo (Laura Dern) acaba grandiloquente demais, por mais que a nova personagem traga um dos melhores momentos do filme. A preocupação de Rian Johnson em fazer um roteiro bem fechado, com arcos bem construídos para todos, é louvável, mas tira a força da trama principal.
Quem surge mais fora de tom em tudo, no entanto, é o Líder Supremo Snoke (Andy Serkis). Enquanto era apenas um nome e um holograma, o personagem gerava interesse. Agora, ele surge como um déspota antipático. Se o imperador Palpatine/Darth Sidious parecia até bondoso ao lado de Anakin, Snoke é apenas violento e dado a demonstrações gratuitas de poder. Soa até pequeno, ainda mais diante da falta de background sobre o personagem. Ele é pouco mais do que uma escada para o conflito entre Kylo Ren e Rey.Os Últimos Jedi” é muito mais “O Império Contra-Ataca” do que “Ataque dos Clones”. É grandioso, vistoso e construído com habilidade. Há uma gama de personagens interessantes, por mais que esqueçamos deles para assistir uma das criaturas fofas introduzidas no filme (neste, há os porgs, focas/pássaro, os fathiers, cavalos/cães e as raposas de cristal). Ou no meio das piadas – Luke tem um senso de humor curiosamente parecido com o do ator Mark Hamill, que o interpreta. Ou no excesso de outros personagens. Mas, bem, fã que é fã costuma querer sempre mais. E nada mais efetivo para um César do que dar o que o povo clama. E isso é, sinceramente, bem divertido – mais do que se pode dizer sobre quase todos os filmes de super-herói que invadem os cinemas de 3 em 3 meses.
(andrebloc@opovo.com.br)