Sem Huck, Moro e Amoêdo, projeto de 3ª via fica menos congestionado, mas impasse da falta de nome viável eleitoralmente persiste.
A desistência de Luciano Huck (sem partido) e de João Amoêdo (Novo) de entrar na corrida eleitoral embaralhou ainda mais as chances de uma 3ª via eleitoral se firmar no jogo político para 2022, avaliam especialistas ouvidos pelo O POVO.
No meio da semana, o apresentador global confirmou que seguiria à frente de um programa de TV e não participaria do pleito como candidato. A saída de Huck se soma à de Amoêdo e mesmo à do ex-juiz Sergio Moro, ambos considerados como alternativa de uma candidatura de centro-direita que possa romper a polarização entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Para Monalisa Torres, professora e cientista política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a decisão de Huck e Amoêdo "abre uma lacuna" no xadrez e impõe redesenho das estratégias.
"Não temos certeza, a preço de hoje", calcula a pesquisadora, "de que esse eleitor 'morista' ou do Huck, que votou em Bolsonaro em 2018, mas que não é necessariamente bolsonarista, vá de Bolsonaro em 2018 se não tiver uma candidatura viável no centro".
Sem esses nomes, sugere ela, o cenário se torna ainda mais instável e as condições para uma via eleitoral fora da esquerda e da extrema-direita, incertas.
"Quanto mais candidaturas temos disputando esse espaço ao centro", continua Monalisa, "mais fragmentado é esse eleitorado, e, como não temos nenhuma que até agora tenha se destacado, fica difícil que os partidos abram mão de concorrer para apoiar uma candidatura que até agora não demonstrou força".
A professora pondera, contudo, que uma fatia dos eleitores segue sem um nome que o represente e que, dependendo das variáveis, um eventual postulante pode se beneficiar. "A possibilidade de esse eleitorado que tem uma simpatia por Moro ou Huck migrar pode mudar as regras do jogo. Não acho que a saída do Huck enfraqueça a 3ª via", arrisca.
Dirigente do MDB estadual e ex-senador, Eunício Oliveira minimiza o anúncio de que Huck e Amoêdo não entrarão na briga pelo Planalto ano que vem.
"Para mim, Huck nunca foi candidato", aponta Eunício, "e Amoêdo também não". O emedebista acrescenta: "Esse campo de 3ª via com DEM? MDB vai se juntar com DEM? Não acredito. MDB vai se juntar com PSDB, que fez impeachment da Dilma e pagamos a conta? Também não acredito".
De acordo com ele, a eleição de 2022 "vai se definir entre Lula e quem sabe Bolsonaro, ou mesmo essa 3ª via, mas não consegui enxergar ainda (um nome)". E aproveita para cutucar um adversário: "Se estiverem imaginando que pode ser o Ciro, ele não é nenhuma das vias, nem primeira nem segunda nem terceira".
Desde que Lula recuperou seus direitos políticos, o que se convencionou chamar de "centro ampliado" vem tentando viabilizar uma candidatura, que, no entanto, não tem prosperado e colhido resultados nas pesquisas de intenção de voto.
Ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Henrique Mandetta capitaneia um movimento para limpar o terreno desse centro e chegar a um denominador comum. Ao O POVO, Mandetta já admitiu que pode concorrer a presidente.
Na última quarta-feira, 16, grupo de sete partidos, entre eles PSDB, DEM e PV, se reuniu para discutir pontos alinhados e antecipar articulações. Ao final, anunciaram que algo pelo menos estava certo: não apoiariam nem Lula nem Bolsonaro para a Presidência. Falta, porém, o nome em torno de quem as legendas construam uma plataforma competitiva.
Cientista político da Uece, Emanuel Freitas avalia que esse projeto é mais uma miragem eleitoral. "A 3ª via é mero sonho de partidos políticos que não têm base social (a da direita foi capturada pelo Bolsonaro) e da imprensa nacional", analisa.
Conforme o estudioso, a viabilidade dessa candidatura alternativa "se liquefaz desde a evaporação de Moro, passando pela retirada do Amoêdo e de Huck".
"Minha aposta", conclui Freitas, "é que restarão apenas Bolsonaro, Lula e Ciro com chances de competitividade, e estes apologistas da 3ª via marcharão com Bolsonaro".