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segunda-feira, maio 22, 2023

Homem é investigado por vender falsas vagas de cirurgias plásticas pelo SUS

Ele cobrava até R$ 5 mil prometendo colocá-las em vagas de procedimentos estéticos em hospitais públicos.


Um homem está sendo investigado por estelionato após denúncias de que ele cobra dinheiro de pacientes para “vender” cirurgias plásticas que seriam realizadas em hospitais públicos de Fortaleza. O suspeito usava, sem permissão, os nomes de cirurgiões para conseguir convencer as vítimas.

O cirurgião plástico Gabriel Cavalcante foi um dos nomes usados pelo suspeito para convencer as clientes a pagar pelas supostas cirurgias. O médico começou a receber mensagem das supostas pacientes em novembro de 2022. Uma das mulheres fez questionamentos sobre a equipe médica que trabalharia no procedimento dela, alegando que estava agendada pelo SUS.

"Eu fiquei espantado com a situação, porque eu já não trabalho pelo SUS há muito tempo; e quando eu trabalhava, o que fazia eram cirurgias realmente reparadoras, como pós-acidente, nada relacionado à estética. Isso eu nunca fiz pelo SUS", disse.

O homem que ofereceu as cirurgias não foi encontrado. A Secretaria Municipal da Saúde, por nota, esclareceu que os dez hospitais municipais de Fortaleza não efetuam cobranças aos pacientes ou familiares sobre os serviços prestados em suas unidades. “Qualquer solicitação em nome dos hospitais ou qualquer equipamento da Rede Municipal de Saúde deve ser denunciada aos órgãos de segurança para as devidas investigações”, complementou o órgão.

A Polícia Civil orientou que outras possíveis vítimas registrem o caso no 18º Distrito Policial, unidade que segue investigando o fato. 

 

Cirurgias por até R$ 5 mil

Após o primeiro contato, o médico iniciou uma conversa com a suposta paciente, que afirmou ter sido abordada por outra pessoa. A mulher falou que repassou ao suspeito um valor pela cirurgia. O médico disse ainda que, com todas as vítimas, esses repasses variavam de R$ 1 mil a R$ 5 mil.

"Até agora eu não entendi se elas passariam à frente ou apenas ficariam registradas na fila do SUS para fazer essa cirurgia com uma equipe minha. Isso me deixou super preocupado", comentou.

O médico reforçou que não possui, atualmente, ligação com o sistema público de saúde. Ele disse que, nos últimos meses, várias outras pacientes começaram a entrar em contato em busca de informações das supostas cirurgias marcadas com ele. Cavalcante falou ainda que, após os vários contatos, registrou a situação em boletim de ocorrência.

"Eu fico chateado porque tento ser o mais ético possível, tento mostrar nas redes sociais como todo o procedimento é feito. No post, falei para todo mundo que o SUS é gratuito. Ninguém pode cobrar nada, nenhum valor relacionado a fila, exame, cirurgia", disse.

O médico explicou que o suspeito já trabalhou com ele, anteriormente, em Caucaia, município da Região Metropolitana de Fortaleza; e que conseguiu chegar ao suspeito porque a chave PIX que ele repassava é o próprio CPF.

Cavalcante explicou que ele e o suspeito possuem fotos juntos porque já trabalharam juntos — imagens que o suspeito utiliza para reforçar a credibilidade com as vítimas do golpe — e também porque o suspeito já foi paciente dele em alguns procedimentos cirúrgicos.

"Ele utiliza dessas fotos para dar suporte para dizer que realmente me conhece e que faço parte dessa equipe, mas isso nunca aconteceu"

 

Cirurgia pelo SUS

Uma das mulheres acusam o homem de estelionato, e disse que conheceu o suspeito no local onde ela trabalhava.

"Eu escutei ele dizendo para outra pessoa que tinha duas vagas de cirurgias plásticas. Aí eu me interessei e fui atrás de conseguir o dinheiro. Ele me cobrou R$ 1 mil", lembrou a mulher, que trabalha como manicure.

"No primeiro momento, ele nunca falou em SUS. Ele sempre mostrou os médicos, que eu fui atrás e vi que não trabalhavam pelo SUS. Então, eu nunca desconfiei [do valor cobrado]", explicou.

A manicure disse que conseguiu o dinheiro e entregou, em espécie, para ele na casa dele. No momento do pagamento, ela disse que recebeu dele as guias dos exames, mas ele próprio quem marcou os procedimentos. Alguns dos exames ela fez na rede particular e outros pelo SUS.

Desde os primeiros contatos, já se passaram quase dois anos. Ela disse que a cirurgia que pretendia fazer era abdominoplastia. O suspeito ainda ofereceu outras cirurgias, como implante de silicone e mastopexia.

A vítima relatou que, depois, o suspeito a repassou três opções de locais para fazer a cirurgia. Ele também repassou o nome de dois médicos — e a incentivou a olhar os perfis deles.

"Assim eu fiquei mais tranquila por conhecer e ver que os médicos eram bem influentes. Eu comecei a pesquisar também se esses médicos estavam envolvidos em processos, mas não vi nada entre eles", explicou a mulher.

Após o pagamento, passou um ano até o momento em que o suspeito deu a primeira previsão de uma possível data para cirurgia. "Eu comecei a olhar os perfis dos médicos, por medo mesmo. Achei que ia ser feito por pessoas aprendizes", comentou a manicure.

Contudo, ela precisou desistir da cirurgia devido a um problema de saúda da mãe dela, o que requereu dinheiro para realização de consultas e exames. "Eu pedi o dinheiro a ele em desespero, dizendo que precisava levar minha mãe para o hospital. Contudo, ele disse que não tinha; que eu precisava vender essa vaga para outra pessoa para conseguir o dinheiro. Mas eu não queria fazer isso", relatou.

A manicure disse ainda que, após registrar o boletim de ocorrência, o suspeito passou a alegar que ela estava tentando comprar uma cirurgia pelo SUS. Ela disse que todo o desgaste a fez desenvolver ansiedade, e que atualmente precisa tomar remédios por conta disso.