Foram 273 casos na faixa etária entre 10 e 19 anos, conforme monitoramento do Prevenção e Combate à Violência.
Neste ano, 275 crianças e adolescentes foram vítimas de homicídio no Ceará. São 273 casos na faixa etária de 10 a 19 anos e dois até 5 anos. Dado é de monitoramento do Comitê de Prevenção e Combate à Violência, da Assembléia Legislativa do Ceará (Alece).
Ao todo, foram 2.240 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) entre 1º de janeiro e 14 de outubro de 2023. Há dois dias, outra vida foi perdida de forma violenta. Kristian Gean de Araújo Alves, 14, foi assassinado em uma tentativa de chacina em uma areninha na comunidade João Paulo II, no Barroso, em Fortaleza.
Levantamento tem como base dados extraídos de registros da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) e da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS).
Thiago de Holanda, sociólogo e coordenador técnico do Comitê, explica que alguns determinantes vulnerabilizam mais os jovens, que são a maioria das vítimas armadas. Ser jovem, negro, morador da periferia são alguns deles.
“Tem o determinante do território, principalmente nesse contexto de violência armada e de grupos que disputam. Embora a vítima não seja vinculada a nenhum grupos, muita gente morre por isso”, analisa. Em muitos casos, o ataque é aleatório e não direcionado a um indivíduo específico, mas ao território e, principalmente, ao grupo que detém poder sobre ele.
“A prevenção se dá em camadas. Como estamos em estágio avançado de violência, a prevenção começa no local, identificar as famílias que perderam jovens assassinados. Tem jovens que estão ameaçados dentro do territórios”, detalha Thiago.
“A prevenção secundária é identificar dentro do local jovens mais suscetíveis. Como os que estão fora da escola por mais tempo, em medida socioeducativas, com abuso de álcool e drogas. São casos possíveis de serem identificados e trabalhados”, pormenoriza.
O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) Ceará aponta que os dados da SSPDS não trazem o recorte racial das vítimas, mas o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023 indica que a maioria das mortes violentas intencionais no País foram de pessoas negras, perfazendo 76,9% dos casos.
“Precisamos reforçar políticas de educação, saúde, moradia, cultura e lazer de forma articulada e integral bem como repensar o modelo de segurança pública”, afirma Ingrid Lorena, coordenadora do núcleo de Monitoramento do Cedeca Ceará.
A falta de informações étnicos raciais das vítimas “mostra que a ausência de dados afeta a análise do contexto de violência do nosso estado como também prejudica a formulação de ações e política públicas que garantam a prevenção a violência”, na avaliação de Ingrid.
Ela frisa que a segurança pública é um tipo de política que precisa ser integrada com outras áreas como saúde, educação, moradia, saneamento básico. “A gente tem hoje em nossa cidade um modelo de segurança pública que pouco dialoga com esses setores”, diz.
A coordenadora do Cedeca afirma que o modelo de segurança do Estado tem um alto financiamento em policiamento ostensivo, armamento, equipamento. “Os maiores números de homicídios de crianças e adolescentes ocorrem em territórios periféricos, em bairros com baixo índice de desenvolvimento humano, pouca iluminação pública”, acrescenta.